QUEM DISSE
Certa vez os poetas Caetano e Tom disseram:
“Há
um clarão infinito que posso enxergar. De vez em quando me perco num pensamento
qualquer que me devolve ao lugar. Havia um calmo mistério plantado no ar.”
Talvez
por isso, a maioria define e deturpa, por capricho, seu lugar ideal em
paz consigo. Com medo de um dia ter que admitir que viu, porque assim, teria
que admitir que contribuiu para a destruição coletiva e, obviamente, para a
autodestruição. Saramago1 que o diga.
Então, um “Outro”, vivo, visceral, cético, pensou:
como esperar um olhar lúcido de quem vê, mas escolhe não enxergar? Pobre do
outro, esse que precisa conviver com a cegueira voluntária e desesperada
daqueles que se recusam a admitir a acuidade visual. Dependeríamos
da capacidade, além da acuidade, e rejeitaríamos, tão somente, o presente e,
assim, proferiríamos o futuro, vendo vantagem na mesma morte, a qual se faz por
natureza justa, fechando os olhos que choram, lacrando a boca que ri; hão
de cair. Assis2 lhes cravaria o próprio Machado,
reivindicando o verdadeiro protagonismo para desvincular isso do
hoje. Afinal ser póstumo é muito diferente de ser Thanos.
Estamos no fiásco da organização social, ainda
assim, Fiódor3 diria, sem hesitar, que deveríamos nos esforçar
mais, no sacrifício do certo consensual, esperar por Nastenka, mesmo tendo
encontrado o amor suavizador da inebriante busca pela satisfação carnal e pela
paz espiritual. Quando alguém dissesse: Preciso de mais? Shakespeare4 diria:
sabes o que é ser Romeu?
Seríamos
o Super Homem, que corre por verdes campos... capaz de sentir todo o seu
esplendor; o “fantasma que corre diante de vós, é mais belo que vós.
Por que lhe não dais a vossa carne e os vossos ossos? Mas tende-lhes medo e
fugis à procura do vosso próximo”, que me perdoe Friedrich5 por
tanta ousadia, diante de um cenário tão sombrio e turvo, no qual até mesmo
Steinbeck6 fugiria para o leste em busca de uma salvação, ou
não... talvez fosse até o Éden, por puro devaneio. Quem sabe assim, ficaria
mais fácil lutar contra moinhos de vento, como se fossem monstros e
dragões, tenho certeza de que Cervantes7 concordaria.
Evoco nesse instante, Paul Thomas Anderson8 sob
a indagação: Quem não mora na rua Magnólia, deve esperar por uma chuva de
sapos? Todavia, diante do exposto rememoro o motejador Geraldo Viramundo,9 agora
como alguém autorizado a criar um composé ideal para o ambiente
atual, haja vista que é, talvez, o único capaz de cumprir, literalmente, o que
se pratica na bruta realidade em que vivemos: ele pode fazer chover bosta! Como
diria Galder Gaztelu-Urrutia,10 “existem os de cima, os
de baixo e os que caem.”
Notas: 1 - Livro: Ensaio sobre a
cegueira de José Saramago; 2 - Livro: Memórias póstumas de Brás Cubas de
Machado de Assis; 3 - Livro: Noites brancas de Fiódor Dostoiévski; 4 Livro:
Romeu e Julieta de Wiliam Shakespeare; 5 - Livro: Assim
falou Zaratustra de Friedrich Nietzsche; 6 - Livros: As vinhas da ira e a leste
do Éden de John Steinbeck; 7 - Livro: Don Quixote de la Mancha de Miguel de
Cervantes; 8 - Filme: Magnólia de Paul
Thomas Anderson; 9 Livro: O grande mentecapto de Fernando Sabino; 10 - Filme: O
poço de Galder Gaztelu-Urrutia.
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